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sexta-feira, julho 05, 2024

Você ama o seu país? | As seis lições, Mises

Recentemente, o lutador de UFC Moicano disse que "se você ama o seu país, leia Mises e As seis lições". Eu não entendo nadica de UFC, mas li o livro, então vamos falar um pouco sobre por que ele é genial. 

O livro se trata de uma série de palestras a universitários da Argentina que foram posteriormente transcritas pela esposa do autor. Dessa forma, parece que o Mises está ali do nosso lado explicando, com vários exemplos e uma linguagem de fácil compreensão.

Os temas abordados são: 1) socialismo, 2) capitalismo, 3) intervencionismo, 4) inflação, 5) investimento estrangeiro, 6) política e ideias.

E isso é BRILHANTE porque, em poucas páginas, Mises resume o mínimo que você precisa saber sobre economia para não sair repetindo bobeiras na internet, principalmente aquelas ensinadas pelos seus professores de história marxistas. 

A fim de tirar o melhor desse livro, eu recomendo que você leia antes (ou concomitantemente) as seguintes obras:

1) A Lei, Bastiat - Mises menciona Bastiat de forma implícita e explícita. É uma leitura que vale muito a pena, pois é a base do liberalismo.

2) O manifesto do partido comunista, Marx e Engels.


De fato, esses dois "livrinhos" sobre economia (incluo A Lei aqui) me fizeram enxergar a realidade de outra forma, principalmente no que tange à nossa relação com o governo e ao que esperamos dele. Embora economia não seja meu assunto preferido, percebi a necessidade de compreendermos o básico e já coloquei outros livros na lista. Os próximos serão "Pare de acreditar no governo" e "Marxismo desmascarado". 

Confesso que, ao ler sobre isso, uma certa desesperança me aflige. Parece que estamos rodando em círculos, votando nos porcos, e esperando por um milagre. Contudo, o próprio Mises diz que "ideias, somente ideias, podem iluminar a escuridão". Ele finaliza sua obra com otimismo e é com esse espírito que quero finalizar essa pequena resenha. Aos poucos, num trabalho de formiguinha, talvez alcancemos pequenas melhoras, pelo menos abrindo os olhos daqueles que estão ao nosso redor. 

Enquanto isso, essa leitura fica favoritada, pelo brilhantismo de um economista em traduzir sua genialidade, exposta em várias obras gigantescas, para nós, meros mortais. Obrigada, Mises!

sábado, novembro 05, 2022

As andorinhas de um continente em chamas | e o caos político no Brasil

Em meio ao caos social e político que estamos vivendo, é fácil compreender o universo de As andorinhas de um continente em chamas, o primeiro livro da Gabriela Fernandes, autora brasileira que conquistou a minha admiração. 

Nessa obra, encontramos um continente dividido por uma revolução que, supostamente, deveria acabar com a desigualdade e melhorar as condições de vida da população. A protagonista, Kelaya, é uma revolucionária e acredita fielmente no propósito dessas mudanças. Embora não consiga ver as benesses prometidas pelos revolucionários ao seu redor, ela está disposta a se sacrificar por um futuro melhor. Afinal, é isso que todos devem fazer, não? Abrir mão de algumas coisas, de pequenos prazeres, de liberdades caras, em prol de uma causa comum. Em prol de uma causa maior.

"É muito fácil se esconder atrás de um ideal bonito, fazer coisas hediondas e depois dizer 'é para que não aconteça de novo'."

Contudo, a personagem enfrentará alguns desafios e, nessa jornada, suas convicções serão confrontadas. Ela descobrirá que a guerra é mais ampla do que imaginava e que mesmo em meio às chamas, há esperança. Descobrirá que antes de mudar o mundo, é preciso enxergar a corrupção que habita seu próprio eu. 

"Porque todos nós somos como a sombra que achou que poderia existir por si mesma. No final das contas, nossos crimes custaram o mesmo preço."

E nós, ao ler essa história, descobrimos que somos andorinhas, sustentados pela misericórdia e graça de um Deus maior do que qualquer inimigo, mais poderoso do que qualquer chama. 

E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.
Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? e nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai.
E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados.
Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos.

sexta-feira, agosto 12, 2022

Influenciável ou sábia? | Persuasão, Jane Austen

AVISO: CONTÉM SPOILERS

Em Persuasão, temos a história de Anne Elliot, uma das três filhas do Sr. Walter, um barão bem convencido de seu título e de sua honra. Elizabeth, a primogênita, é a mais bela e a mais amada pelo pai. Mary, a caçula, casou-se bem, o que lhe garantiu a admiração do pai e da sociedade. Anne, contudo, com seus 27 anos, é uma solteirona. 

Em sua juventude, Anne se viu em um dilema: estava apaixonada, mas sua família, principalmente a Lady Russell, não aprovava o compromisso, uma vez que o jovem era um mero marinheiro. A protagonista decide, então, negar seu coração e ouvir a mulher que era como uma mãe para ela. Muitos anos depois, ela se questiona se essa foi a decisão correta. 

"Foram alguns meses entre o começo e o fim do relacionamento dos dois, mas o sofrimento de Anne não terminara tão depressa. Seu apego e seu arrependimento tinham, por um longo tempo, obscurecido todo o prazer da juventude, e uma perda prematura de vigor e espírito havia sido o efeito duradouro." p. 32 

Após oito anos, Anne temia ver seu amado, agora capitão Wentworth. Quando ele, enfim, retorna, diz que ela estava tão mudada que ele não a reconheceria. Essas palavras acabam com as esperanças que ela nutria secretamente. 

"Não perdoara Anne Elliot. Ela o havia maltratado, abandonado e desapontado. Pior: demonstrara uma fraqueza de caráter ao fazer tudo isso, algo que o temperamento decidido e confiante dele não podia suportar. Desistira dele para agradar outras pessoas. Cedera à persuasão. Fora fraca e acanhada." p.61

"Antes, eram tudo um para o outro! Agora, nada! [...] não poderia haver dois corações tão abertos, nem gostos tão similares, sentimentos tão harmoniosos, comportamentos tão adoráveis. Agora, eram como estranhos. Não, mais do que estranhos, pois nunca poderiam voltar a se aproximar. Era um afastamento perpétuo." p. 64

Percebemos uma questão que atravessa a alma da nossa protagonista: teria sido seu caráter fraco? Fora ela muito influenciável? 

Em um discurso, Wentworth parece acusá-la:

"Meu primeiro desejo em relação a todos por quem me interesso é que sejam firmes. Se Louisa Musgrove quiser ser bela e feliz no outono da vida, deve cuidar agora mesmo do seu espírito." p.87

Ao final da primeira parte do livro, porém, um determinado acontecimento nos faz repensar tudo. 

"Anne perguntava-se se já ocorrera ao capitão Wentworth se questionar se era correta sua opinião anterior quanto à felicidade e vantagem universais da firmeza de caráter. E se não parecia que, como todas as outras qualidades da mente, deveria ter suas proporções e limites. Anne achava que ele dificilmente poderia deixar de sentir que um temperamento maleável, às vezes, poderia ajudar tanto a felicidade quanto um caráter muito decidido." p. 114

Antes de revelar o final da história, gostaria de discutir isso daqui um pouco. A questão principal que Jane Austen nos traz é algo muito recorrente em nossas vidas: quantas vezes nos deparamos com escolhas difíceis? Quantas vezes ficamos entre a emoção e a razão? Quantas vezes pensamos se, realmente, deveríamos seguir um conselho de alguém que nos ama ou não? 

Em um mundo líquido, não parece ser uma escolha tão difícil. Os relacionamentos atuais, instáveis e efêmeros, não exigem muita ponderação. As pessoas parecem obcecadas com o lema "siga seu coração". Será??? Será que deveríamos seguir um coração enganoso como o do homem? 

"Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" - Jeremias 17:9

Não é incomum ver pessoas quebradas, sofrendo por diversos relacionamentos, porque se entregam a qualquer um, porque perseguem o "amor" como um cão que corre atrás de migalhas. 

A Bíblia, como sempre, nos adverte: "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, pois dele procedem as fontes da vida." - Provérbios 4:23

Logo, queridos, fico morrendo de raiva quando vejo a Netflix tentar transformar Persuasão em uma obra que fala sobre machismo e colocar uma protagonista fútil e "empoderada" no lugar de Anne, que é extremamente cautelosa e reservada. 

Contrariando tudo que as atuais produções cinematográficas tentam enfiar na nossa mente, Persuasão nos mostra que a sabedoria está, justamente, no equilíbrio entre a razão e a emoção. Ao final da obra, Anne diz o seguinte ao capitão:

"Estive pensando no passado e tentei, de forma imparcial, julgar o bem e o mal no que me diz respeito. E cheguei à conclusão de que fiz bem, apesar do que sofri por isso. Que eu estava certa em me deixar ser guiada pela amiga que o senhor aprenderá a amar mais do que ama agora. Para mim, ela era como uma mãe. Mas não me interprete mal. Não digo que ela não tenha errado em seu conselho. Talvez tenha sido um daqueles casos nos quais os conselhos são bons ou ruins de acordo com o que acontece depois. E eu, da minha parte, nas mesmas circunstâncias, nunca darei tal conselho. Mas digo que estava certa em obedecê-la e que, se agisse de outro modo, sofreria mais em continuar o compromisso do que em rompê-lo, porque minha consciência teria sofrido.  Agora, na medida em que tal sentimento é permitido na natureza humana, não tenho nada para me reprovar. E, se não me engano, um grande senso de dever é uma boa qualidade em uma mulher."

Sim, uma resposta e tanto para aquele homem que, com o orgulho ferido, acusou-a de ser manipulável e inconstante. A verdade é que os personagens de Austen são muito reais, com qualidades e defeitos que nos convencem. Anne, por exemplo, cala-se demais, é tímida, não consegue expor suas opiniões... e colhe os frutos de suas escolhas. O livro reflete a melancolia da protagonista, com um clima bem pesado. E, ao longo da obra, perguntei-me, várias vezes, o que Anne também deve ter se questionado: ela fez a escolha certa? A resposta não é simples, como podemos ver pela sua fala final, quando ela finalmente libera sua voz.

No que tange à constância, no final do livro, temos um diálogo que é brilhante. Anne, sabendo que Frederick estava ouvindo sua conversa, mostra o quanto ela ainda o ama. Ele podia acusá-la de ser manipulável, mas a verdade é que ela fora absurdamente constante. Seu amor não se apagou com o tempo e com as adversidades. Enquanto ele elogiava outra mulher, ela sofria em silêncio. Ela amava em silêncio. Anne não é nem um pouco empoderada, mas sua força é evidente. E é nesse momento que ele escreve sua carta... a famosa carta.

Outra coisa interessantíssima abordada por Jane Austen é a hipocrisia. Nesse livro, temos dois personagens tentando conquistar a mocinha: Sr Elliot, seu primo e herdeiro de seu pai, e o capitão Wentworth, já mencionado. 

Sr. Elliot seria o par perfeito, rico e herdeiro das terras do pai de Anne. Além disso, todos o veêm como um homem gentil e cheio de qualidades, embora - de fato - ele tenha agido mal em uma situação passada. Entretanto, precisamos ler nas entrelinhas e analisar as atitudes e falas de cada personagem para conseguir extrair seu verdadeiro caráter. 


Embora todas aconselhem Anne a dar uma chance ao seu primo, ela percebe que há algo de errado em seu comportamento. Por outro lado, ainda que o capitão apareça em poucas cenas, conseguimos perceber sua bondade através de coisas simples. São falas, posicionamentos, escolhas, ações... esse livro é um livro de detalhes. O amor está presente nas pequenas coisas e só uma pessoa atenta será capaz de percebê-lo. Aqueles dispostos a ler momentos aparentemente sem significado com o coração aberto perceberão que Anne não se apaixonou por Frederick por acaso ou por motivos fúteis. Perceberão o que é o amor: não um sentimento tolo, imprevisível, fugaz... 

O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
- 1 Coríntios 13:4-7